Histórico da ABRAPO
Ao longo de sua existência, a Abrapo promoveu parcerias nacionais e internacionais para a execução dos projetos com inúmeras entidades públicas e privadas e órgãos governamentais, a exemplo das atividades realizadas com o apoio do Ministério da Cultura. Cursos, seminários, eventos, formação, capacitação, oficinas, produção audiovisual e cinematográfica, confecção de materiais, mostras e encontrosestão entre algumas dasatividades executadas pela associação em todo o território nacional.
Atuação na área cultural
Foram muitos os projetos desenvolvidos pela Abrapo ao longo dos últimos 23 anos e destacaremos, a seguir, algumas das atividades cujas temáticas cultural, pedagógica e artística foram destaque.
Em 2009, a Abrapo desenvolveu, em parceria com a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), o Projeto Juventude e Reforma Agrária. O objetivo era proporcionar à juventude do meio rural uma reflexão coletiva sobre a situação dos jovens na conjuntura agrária brasileira. Dentre as várias atividades desenvolvidas, as ações culturais foram fundamentais, pois foi compreendido que as linguagens artísticas eram instrumentos importantes e acessíveis para que o público jovem integrasse a compreensão de temas complexos que refletem, inclusive, a história de formação do povo brasileiro.
Ainda em 2009, a Abrapo deu início a um importante projeto que foi desenvolvido ao longo de três anos em parceria com o Instituto Cultivar e seis entidades de cooperação internacional (Cafod, Caritas Francesa, Christian Aid, Desenvolvimento e Paz, ICCO e PPM). O projeto visava o fortalecimento, capacitação e participação de trabalhadores e trabalhadoras das áreas de reforma agrária do Brasil nas políticas e ações para a efetivação do direito de acesso à terra e aos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs).
Em 2010, a Abrapo foi responsável por desenvolver duas atividades culturais que tiveram destaque, especialmente entre o público jovem e infantil. Um deles foi o projeto “Fortalecimento do Processo Pedagógico de Crianças das Áreas de Reforma Agrária do Brasil”, que contoucom financiamento da organização inglesa ActionAid e resultou na elaboração e publicação da 3ª Edição da Revista das Crianças Sem Terrinha, uma ferramenta importante de formação pedagógica e inclusão cultural do público infantil que vive com suas famílias nos assentamentos da reforma agrária.
O outro projeto foi desenvolvido em parceria com o Ministério da Cultura por meio do edital número 5, de 9 de março de 2010, que contemplava os projetos selecionados no programa Prêmio Pontos de Mídia Livre. A Abrapo desenvolveu o “Cinema da Terra”, produzido e realizado pela juventude dos assentamentos de reforma agrária, possibilitando o acesso à cultura cinematográfica a um público historicamente excluído das produções culturais do país, especialmente no que diz respeito ao audiovisual.
Além de resgatar a cultura popular, o projeto proporcionou diversão e debates sobre temas relevantes da sociedade, como a importância de uma Reforma Agrária Popular e uma cultura alimentar, e fortaleceu os grupos de jovens nos assentamentos, tornando-os um dos principais articuladores das comunidades.
Os debates eram realizados no período da manhã e à noite sempre havia uma atividade cultural para abordar o tema, envolvendo música, teatro, dança, poesia e exposições. As crianças também participaram das atividades por meio da Ciranda Infantil, um espaço em que as educadoras e educadores desenvolveram atividades pedagógicas coletivas, permitindo a troca de experiências e o contato com a diversidade cultural entre as crianças.
Também em 2011, a Abrapo também desenvolveu o projeto “Educação, Agroecologia e Soberania Alimentar”. Em parceria com a Cáritas Brasileira, o projeto tinha o objetivo de promover a formação de educadores e educadoras jovens e adultos que atuavam nos assentamentos da reforma agrária de todo território nacional. Os temas abordados na formação previam o aprofundamento sobre as questões ligadas ao aquecimento global, às mudanças climáticas e à necessidade de mudança nos modos de produção. Os educadores foram capacitados a aplicarem em sala de aula a cartilha Agroecologia, Soberania Alimentar e Cooperação, material produzido pelos movimentos sociais do campo que pretendeu promover o debate ambiental simultaneamente ao processo de alfabetização dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Aprofundou-se, nesse período, o entendimento de que era necessário compreender a cultura do povo sem terra e a sua relação com a natureza como estratégia fundamental no enfrentamento da crise climática e na garantia da soberania alimentar, no combate à fome.
Em 2014, o projeto “Cultura infantil no campo: visibilizando a musicalidade popular” resultou em outra importante atividade desenvolvida e executada pela Abrapo, dessa vez com o patrocínio da Petrobras. Os educadores e educadoras que atuavam em escolas e comunidades rurais das diferentes regiões do Brasil participaram de encontros e oficinas cujo objetivo era estimular o debate sobre as formas de proporcionar a cultura na infância, especialmente por meio da música.
Além da formação pedagógica e cultural, os participantes produziram um CD e um DVD com canções infantis elaboradas e interpretadas pelas crianças do campo. A Abrapo participou ativamente no processo de produção (mixagem, masterização, projeto gráfico, prensagem dos CDs, DVDs e impressão do caderno musical) e na divulgação, que contou com a realização de um show, onde as crianças foram as interpretes e protagonistas do espetáculo.
A atividade, que durou três dias, foi patrocinada pela Caixa, BNDES e Petrobras. Com a representação das cinco regiões brasileiras, a Mostra foi uma oportunidade de divulgar e expandir a diversidade do campo não apenas na produção dos produtos da terra, mas também a vasta produção cultural camponesa e agroecológica que abrange todo o território nacional.
Estima-se que foram expostas duas mil toneladas de alimentos, desde in natura até processados, além de artesanatos e variados produtos que puderam representar a riqueza cultural e local de diversos cantos do Brasil. As atividades culturais ocorreram ao longo de toda a programação da Mostra, mesclando debate sobre a cultura camponesa com intervenções em várias linguagens artísticas, como oficinas, Círculo Cultural Infantil, apresentações musicais, teatro e exposição fotográfica.
Durante o Seminário, os participantes promoveram uma discussão ampla e aberta sobre a temática da saúde e a relação cultural dos trabalhadores e trabalhadoras com hábitos saudáveis alimentares. Além de denunciar o crescente índice de mortalidade como uma grave consequência do uso de agrotóxicos nas produções de alimentos, os participantes debateram uma estratégia coletiva para ampliar o alerta à sociedade sobre a necessidade de uma nova cultura alimentar que promova a saúde e o combate à fome.
A Mostra de Artes e o Festival de Música promovidos durante o encontro fizeram com que as mulheres se desafiassem na elaboração e execução das apresentações artísticas, fortalecendo, com isso, o seu protagonismo e a expressão em diferentes linguagens.
Meio ambiente
Em 2022, a Abrapo firmou parceria com a WRI Brasil, associação civil sem fins lucrativos, para apoiar a execução do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, lançado em 2020 pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) visando plantar 100 milhões de árvores em dez anos. A ideia é denunciar o modelo destrutivo ambiental promovido pelo agronegócio e trabalhar para haver uma mudança cultural na sociedade na forma de lidar com o meio ambiente, a natureza e com o modelo de produção dos alimentos que chegam à mesa do povo brasileiro.
Para isso, o projeto firmado em 2022 tem como meta realizar a regeneração natural assistida em larga escala no estado do Pará, onde estão sendo realizados mapeamentos da cobertura e uso do solo, com destaque para fragmentos de florestas em regeneração e com potencial para área de coleta de sementes, sistemas agroflorestais, Área de Preservação Permanente (APPs), além de identificar demandas para recuperação de nascentes, APPs e Reserva Legal em cinco assentamentos, envolvendo 725 famílias em uma área de 11.094,74 hectares.
Solidariedade internacional
Em parceria com o MST, a Abrapo assessorou e desenvolveu uma campanha de solidariedade internacional em apoio aos camponeses da Zâmbia. O objetivo era arrecadar bicicletas para serem destinadas aos educadores e educadoras das turmas de alfabetização e agroecologia do país que não possuem meio de transporte para se deslocar entre 15 e 30 km para chegar às salas de aula. Na Zâmbia, a bicicleta é o principal e mais popular meio de transporte. Com essa campanha, que foi apoiada por organizações internacionais, como a WhyHunger, arrecadaram-se 410 bicicletas, que foram distribuídas ao longo de 2021 e 2022.
O projeto foi mais uma importante ação no sentido de ampliar a solidariedade internacional entre os povos e proporcionar o acesso à educação e à formação de uma cultura agroecológica. Desde 2008, o MST realiza ações de solidariedade no continente africano por meio da sua Brigada Internacionalista Samora Machel. Depois da realização de trabalhos em países como Moçambique e África do Sul, a Brigada se estabeleceu na Zâmbia, país da África Austral com pouco mais de 13 milhões de habitantes dos mais diversos grupos étnicos.
É possível acessar mais informações sobre a campanha no site: https://mst.org.br/especiais/bicicletas-para-zambia/#apresentacao
Alimentação saudável
Atualmente, diante da crescente demanda por uma cultura alimentar saudável, livre de veneno, que promova a vida, a Abrapo tem dialogado cada vez mais com as entidades e movimentos sociais que historicamente trabalham com a associação para ampliar a atuação e assessoria no desenvolvimento de projetos que tenham como foco essa temática. O direito à alimentação é um direito humano. Combater a fome e proporcionar o desenvolvimento de políticas públicas e privadas no campo para garantir uma alimentação digna ao povo brasileiro é um dos objetivos e área de atuação da Abrapo.