Entrevista com Camilo Augusto, do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, mostra trajetória e desafios para a pauta ambiental no MST
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
Uma das bandeiras assumidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é a Reforma Agrária Popular, que também pauta a defesa do meio ambiente na sua centralidade. Neste sentido, em 2020 surge o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis, que representa um marco na trajetória Sem Terra, buscando conciliar a produção de alimentos saudáveis com a preservação ambiental.
Chegando a quase metade da meta, o plano nacional já conseguiu plantar 25 milhões de árvores, envolvendo milhares de pessoas da base do MST e parceiros. Esse processo tem sido fundamental para qualificar o debate ambiental dentro da organização e projetar propostas sobre a a agenda ambiental a partir da realidade dos acampamentos e assentamentos pelo país. Além do plantio das árvores, estas ações acabam envolvendo também a recuperação de nascentes, áreas degradadas e espécies ameaçadas, além de cuidar de bacias hidrográficas e outras ações que demonstram o papel central da Reforma Agrária Popular na solução da crise ambiental.
Nesta entrevista, Camilo Augusto, da coordenação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimento Saudável, traz a trajetória do Plano ao longo dos anos e os desafios e metas para o futuro. Confira!
Como tem sido a trajetória do “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” ao longo desses anos iniciais? Quais foram os principais marcos e conquistas alcançadas até o momento?
Camilo Augusto: Nesses quatro anos de construção, o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis conseguiu chegar ao número de 25 milhões de árvores plantadas. Mais que o número em si, esse processo envolveu milhares de pessoas de nossa base social, qualificou o debate ambiental dentro da organização, projetou o MST como Movimento que formula sobre a questão ambiental e tem conseguido avançar na elevação da consciência ambiental de nossa base social.
Isso sem mencionar os processos concretos como recuperação de nascentes, áreas degradadas, espécies ameaçadas bacias hidrográficas cuidadas e tudo o que temos feito como ações que demonstram que a Reforma Agrária Popular é parte fundamental da saída à crise ambiental, pois envolve o povo que vive da terra, e na terra se produz alimentos preservando a natureza.
Quais são os principais desafios enfrentados pelo MST para este ano do Plano? Como a organização está se preparando para superá-los e garantir o sucesso da iniciativa?
Os desafios são grandes, temos o objetivo de construir mais ações de impacto, no âmbito da luta ambiental, que projete o MST, a Reforma Agrária Popular e a agroecologia como centrais na formulação de alternativas à crise ambiental. Ações como a semeadura da palmeira Jussara, no Paraná, ou a recuperação dos mais de mil hectares degradados pelo crime da Vale, em Brumadinho, são exemplos dessas ações que ajudam a furar a bolha e projetar as propostas do Movimento para o conjunto da sociedade.
A construção do Plano Nacional se dá nos estados e grandes regiões, pensando a dimensão dos biomas. Então a única forma que há de superar os limites e desafios que temos é envolvendo a base cada vez mais, popularizando o debate e construindo ações a partir das realidades concretas. Os coletivos nos biomas estão se desdobrando para pensar isso e propor formas criativas de avançar a partir da sua realidade.
E quais são as metas estabelecidas para este ano? Há alguma região específica em que o MST pretende concentrar seus esforços?
Não temos metas numéricas anuais, justamente pelo processo dinâmico que é pensar e organizar o Plano nas regiões e estados. O que temos são orientações e linhas gerais que apontam para o que fazer no âmbito da formação da consciência, como cursos regionais e seminários estaduais; no âmbito da produção, como massificação dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) e cadeias produtivas com árvores; no âmbito da educação, na construção de um programa popular de educação ambiental para nossas escolas; e no âmbito das lutas concretas, com denúncia ao agro como destruidor ambiental irremediável, anunciado da Reforma Agrária Popular a partir da prática dos nossos territórios e a desconstrução, a partir da luta, das falsas soluções propostas pelo mercado financeiro para a crise ambiental.
Poderia compartilhar um pouco do calendário de atividades? Quais são as principais ações programadas e como os Sem Terra podem se envolver e contribuir para o sucesso dessas atividades?
Como mencionado, não construímos uma programação a priori, os estados em seus biomas e grandes regiões constroem no dia-a-dia. Temos o calendário que aponta os dias dos biomas, o dia do meio ambiente, o dia da água, e o dia da árvore, como dias para se realizarem ações, seja de plantio, de formação, de agitpop, etc. Além disso, estamos fazendo o esforço de imprimir o elemento ambiental nas jornadas de luta emblemáticas do Movimento, como o Março da Mulheres, e o Abril de Lutas em Defesa da Reforma Agrária.
Estamos envolvendo os Sem Terra no Plano a partir do momento em que se organiza pra recuperar uma nascente, que envolve a escola do assentamento, que constrói um bosque dos 40 anos do MST, que se inicia uma experiência de plantio de SAF no lote, ou seja, a partir da realidade concreta e do desenvolvimento de ações que cuidem da natureza.
É fundamental para o Plano que ele seja internalizado, é a prática cotidiana das famílias que produzem alimentos ao passo que cuidam dos bens comuns que materializa o Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. Não é somente o plantio de mudas para o cumprimento da meta das 100 milhões de árvores plantadas, o Plano vai além disso: é mudar a forma de conviver com a natureza!
*Editado por Gustavo Marinho